Bairro de Lata
No fim de um estreito carreiro desembarca um mundo perdido.Uma floresta de tábuas eriçadas que se espreguiçam na miséria,
dão abrigo aos homens mudos de sonhos.
A arquitectura desordenada dos telhados de zinco merenda a madeira nua que treme de podridão.
Em cima deles um sem número de inutilidades; pneus, tijolos e lixo reciclado pelas mentes que necessitam de guardar alguma coisa para enganar a desilusão.
Não se ouvem pássaros, apenas gritos e rumores das mulheres que dissecam cada pormenor da vida alheia. Estas não usam cremes, os seus cheiros são meteorológicos, pois o pouco dinheiro que lhes resta serve para saciar a fome à realidade.
As crianças correm, são “livres”, embora habituadas a sentir o álcool enfurecer as mãos dos pais sem razão plausível.
Joga-se à bola, ao berlinde e às escondidas. Realizam-se os jogos olímpicos várias vezes por mês, com prémios de cortiça e taças feitas com garrafas de óleo, cabos de vassoura e pratas retiradas dos maços de tabaco já consumidos.
Os homens embriagam os dias de esquecimento, os filhos com a infância engarrafada lavam o futuro na revolta.
Aqui abrem-se as portas à memória.
O tempo acende o sono dos sorrisos
E a cada dia que passa
nascem ilhas.
Alberto Pereira
In: O Áspero Hálito do Amanhã
ps: "Bairro de Lata" é o mesmo que Favela.
No fim de um estreito carreiro desembarca um mundo perdido.Uma floresta de tábuas eriçadas que se espreguiçam na miséria,
dão abrigo aos homens mudos de sonhos.
A arquitectura desordenada dos telhados de zinco merenda a madeira nua que treme de podridão.
Em cima deles um sem número de inutilidades; pneus, tijolos e lixo reciclado pelas mentes que necessitam de guardar alguma coisa para enganar a desilusão.
Não se ouvem pássaros, apenas gritos e rumores das mulheres que dissecam cada pormenor da vida alheia. Estas não usam cremes, os seus cheiros são meteorológicos, pois o pouco dinheiro que lhes resta serve para saciar a fome à realidade.
As crianças correm, são “livres”, embora habituadas a sentir o álcool enfurecer as mãos dos pais sem razão plausível.
Joga-se à bola, ao berlinde e às escondidas. Realizam-se os jogos olímpicos várias vezes por mês, com prémios de cortiça e taças feitas com garrafas de óleo, cabos de vassoura e pratas retiradas dos maços de tabaco já consumidos.
Os homens embriagam os dias de esquecimento, os filhos com a infância engarrafada lavam o futuro na revolta.
Aqui abrem-se as portas à memória.
O tempo acende o sono dos sorrisos
E a cada dia que passa
nascem ilhas.
Alberto Pereira
In: O Áspero Hálito do Amanhã
ps: "Bairro de Lata" é o mesmo que Favela.
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