sexta-feira, 28 de maio de 2010

UM PRECIPÍCIO A QUE QUEREMOS PERTENCER - POEMAS DITOS 3



Episódio 3

Al Berto - Há-de flutuar uma cidade no crepusculo da vida

Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu… como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos… sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta… dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca do mar ao fundo da rua
assim envelheci… acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração, mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite a felicidade

quarta-feira, 26 de maio de 2010

LANÇAMENTO DO LIVRO, "MATERIAL ANGÚSTIA" DE PEDRO SENA-LINO




Será lançado hoje, 26 de Maio, um volume que selecciona
33 poemas do poeta Pedro Sena-Lino. É editado pela Cosmorama,
com o título "Material Angústia".
Tem posfácio de Ludovic Heyraud, professor em Montpellier.
Para quem quiser estar presente, o lançamento é às 19h, na Casa Museu Anastácio Gonçalves, na Av. 5 de Outubro.

terça-feira, 25 de maio de 2010

ALBERTO PEREIRA - AFINADOR DE NUVENS_0002.wmv




Aqui fica o excelente trabalho de Zélia Santos,
que mais uma vez teve a generosidade de emprestar
a sua voz às minhas palavras.

O poema "Afinador de Nuvens", foi premiado com o 3º lugar
no Concurso Sepé Tiaraju de Poesia Ibero-Americana em 2009,
entre 3027 poemas inscritos de 26 países.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

UM PRECIPÍCIO A QUE QUEREMOS PERTENCER - POEMAS DITOS - 2




Episódio 2


Mário Cesariny/Navio de espelhos


O navio de espelhos
não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

O seu porão traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

E no mastro espelhado
uma espécie de porta

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ála
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo


Mário Cesariny

ENTREVISTA A ALBERTO PEREIRA




SOMBRAS COMUNS
Entrevista a Alberto Pereira


Por Carmen Ezequiel
em exclusivo para o Palavra Fiandeira

Para ler em

http://palavrafiandeira.blogspot.com/2010/05/sombras-comuns-entrevista-alberto.html

ou ir directamente a Palavra Fiandeira Nº 29 (via google)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

UM PRECIPÍCIO A QUE QUEREMOS PERTENCER - POEMAS DITOS



Herberto Helder / Minha cabeça´

Episódio 1

Um precipício a que queremos pertencer, será uma série
de poemas em vídeo, onde seremos alvejados pelo
poder das palavras.
O imaginário a gritar sobre o mundo.

domingo, 9 de maio de 2010

A PAISAGEM NO HOMEM


Pintura de
Mari Lopes, 1999
"Homem Lendo o Jornal",2m X 1m50, têmpera acrílica sobre tela
Acervo da TV Cultura-SP, Brasil


A PAISAGEM NO HOMEM

O homem sentado na cadeira estava sereno.
Tinha a face avermelhada e o cabelo esquecido,
não por vontade própria,
mas porque os dias lhe atraiçoaram o pente.
O pente não tinha razões para tomar anti-depressivos,
porque nos dois lados da cabeça sobravam ainda
cabelos brancos.
Os cabelos tinham a cor da idade.
Os olhos precisavam de óculos para encontrar o mundo.
O homem tinha uma aliança na mão esquerda
e os dedos pequenos.
Os dedos da mão direita também eram pequenos
e estavam apoiados no sofá.
As notícias entravam pelas lentes
para encontrar os olhos.
Os olhos gostavam do que viam,
porque os lábios deixavam acontecer
um sorriso leve.
O homem não sorria
porque o campo à sua frente era verde
e tinha árvores floridas.
Mas a paisagem imitava o homem,
porque ambos estavam serenos.

Alberto Pereira