NÓDOAS ACORDADAS
Aprendi tantas vezes a morte,
sempre que o Verão atracava lâminas.
Abruptamente,
o catecismo afectivo mordia veneno.
As mulheres como navalhas
ruíam num sopro as cidades sobre a pele.
Mas o tempo trazia sempre
uma fogueira a acordar outro rosto.
Pela vigília luminosa, vinham de novo sereias,
a engolir a memória.
As lágrimas soerguidas nas nódoas
como satélites a espiar o encanto.
Lembro ainda a febre,
ora a estibordo, ora a bombordo,
de cada passo.
As palavras cálidas à flor da língua
a derreter a terra inteira
e de repente
um estrépito de paraíso.
Depois, o desenlace dos dias,
os minutos a respirarem a névoa,
as mulheres inesperadas noutros corpos.
um incêndio aprende-se com o gelo.
Alberto Pereira
Poema do livro
Amanhecem nas rugas precipícios
2 comentários:
Sublime!!!
"Mas o tempo trazia sempre uma fogueira a acordar outro rosto."
Maravilhoso! A vida é assim. E nós amamo-la apesar de tudo, apesar de nada...
Um beijo, Alberto.
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