segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Presídio


Poema do livro
"O áspero hálito do amanhã"

7 comentários:

Anónimo disse...

Caro Alberto

Este teu poema, os teus poemas são feitos de contrastes, como a vida, de afirmação de luminosidade e escuridão, e uma vez mais, tal como a vida, ou talvez, as nossas vidas, permitem vislumbrar, ou melhor imaginar, pressupor as altas montanhas e os pináculos que nos formam, e entre uma coisa e outra, onde, estará o eu que se expressa, respira, fala connosco, ou o mistério da natureza humana que nos coube por sorte, creio?

Leio os teus poemas, mas não consigo ficar na semântica dos mesmos, uma semiótica psicológica desassossega-me, talvez, aqui, não tenha conseguido fazer a segmentação de papéis entre o leitor, o amigo e um técnico de psicologia. Por vezes não é fácil e nem sempre é possível, parece-me ser este o caso, porquê? …

Pressinto que haverá algo de muito profundo da alma humana que emerge sem poder ou querer claramente mostrar-se, através da frequente expressão dos opostos, sinalizando, sempre, que nenhum Sol brilhará plenamente, porque uma treva, uma dor, um punhal de cristal, nunca o permitirá.

Quando te leio não posso deixar de pensar mais na dimensão da alma humana, neste caso da tua que é sempre muito da nossa, da minha, do que na forma, como o Alberto, escolheu para a exprimir.

Mas perguntou-me quem antes despertou em mim iguais sentimentos, assim, de um modo breve, direi Fernando Pessoa, Antero, António Nobre, Florbela Espanca, Fialho de Almeida e, nestes há muito de comum para além da poesia e de uma certa, por vezes enorme, angústia existencial, havia também um diálogo/ conflito com os interditos.

Numa palavra os teus poemas estão cheios das insondáveis essências constitutivas da natureza humana na sua forma mais genuína, enfim, talvez também este seja um modo difícil e arrevesado de falar, mas que outro haverá para falar do que é insondável?


Abraço

andrade da silva

Anónimo disse...

Agora que, com mais tranquilidade e sossego físico e psíquico, voltei a ler o seu belíssimo O ÁSPERO HÁLITO DO AMANHÃ, não posso impedir-me de lhe voltar a dizer da enorme satisfação que tive em conhecê-lo.
Não sou crítico literário. Desse lado está Xavier Zarco que fez ao seu livro um notável prefácio crítico. Apesar disso e na qualidade de simples leitor comum, não queria deixar de lhe dizer algo de mais concreto acerca dos seus poemas que acho verdadeiramente invulgares pela sua originalidade e beleza.
Lido e relido o seu livro, posso afirmar-lhe que raramente tenho visto um autor escolher para livro seu, uma epígrafe que. duma maneira tão forte, caracterize e sintetize aquilo que escreve. "Não somos feitos de pele. Somos feitos de feridas". Assim é, de facto, com o seu livro. A exuberante riqueza das metáforas, o doloroso desencanto das palavras e das ideias, mais não são, ao que julgo, que o desnudar de feridas sofridas pelo autor enquanto individuo e enquanto ser social.

Recordo-me de me haver perguntado qual dos poemas mais me impressionara. Dir-lhe-ei. O povo costuma dizer que não há amor como o primeiro. Isso foi o que comigo aconteceu. MEIA-NOITE NA ALMA foi a primeira poesia que li e que constituiu para mim uma tão marcante surpresa que não sou capaz de deixar de a olhar como uma das mais belas do conjunto. Direi, contudo que não lhe ficam atrás: O ÁSPERO HÁLITO DO AMANHÃ, poema de ressonâncias dramáticas em que o doloroso e desencantado sabor - o áspero hálito - marca o amanhã, o dia seguinte ao de uma perda insuportável - "Quando tudo acaba / a rouquidão perene / desce aos escombros da voz". TU, poema de um delicado, magoado e ao mesmo tempo explícito erotismo. O ÚLTIMO PARÁGRAFO DO ENCANTO: "Esqueci-me de mim / numa esquina poluída do tempo / e sobre o abismo desprevenido / segui a aresta íntima dos teus lábios". MUSA CINZENTA: "Todos os dias me sentava junto ao cais da tua boca / a ver-te voltear o sentimento"

Da terceira parte do livro de que também muito gosto Mordem Pincéis nas Palavras (original e tão poética a inversão dos termos; é que, para mim, são mais as palavras que mordem os pincéis ou seja a obra de arte) e já que os extremos se tocam, Guernica, a última poesia do seu livro é a minha preferida pelo vigor rigoroso da descrição do quadro, rigoroso e cheio de poesia. Digo-o embora não duvide de que estou a ser muito influenciado pelo facto de ser desde a a minha juventude um apaixonado admirador desse quadro. não só pela sua beleza formal mas também pelo muito que ele significou ideológicamente para a chamada "geração de 60" que é a minha. A propósito aproveito para lhe dizer que lhe vou enviar um interessantíssimo mail que há tempos recebi: A GUERNICA, desconstruida e vista em 3 dimensões e nos mais diversos ângulos.

Por último, mais uma palavra. Como já lhe disse considero a sua poesia de uma beleza dilacerante e por vezes desesperada. Bem sei que se ao espetáculo do mundo somarmos os nossos dramas individuais que a sensibilidade de cada um pode atenuar ou exacerbar, pouca margem fica para optimismos. Temos uma apreciável diferença de idades e espera-se dos "velhos" como eu, que emitam os seus "prudentes e sábios" conselhos. Não o farei como deve supor. Não é meu hábito e, para além disso, se tanto me sensibilizou a sua poesia foi porque com ela me identifico quer do ponto de vista estético, quer do ponto de vista da sensibildade à flor da pele que por toda ela perpassa. Assim sendo, a ideia que gostaria de deixar-lhe e que naturalmente também tomo para mim, vai no sentido de lembrar que na vida tal como na natureza, também há calorosos e luminosos dias de sol com os quais é bom que, por vezes, deixemos aquecer a alma ou o que quer que isso seja.

Por aqui me fico, meu amigo. Desculpe-me o tempo que lhe tirei a ler estas linhas. Agradeço-lhe os cuidados que me dispensou durante a minha passagem pelo seu hospital. Acerca dela tenho dito a meus amigos: "Há males que vêm por bem",a costuma dizer-se. Tive a sorte que isso acontecesse comigo. Passei um mau bocado mas descobri um grande poeta. Não vale a pena pedir-lhe que continue. Não tenho dúvidas de que o fará. Apenas lhe peço que se lembre de mim a quando da sua próxima publicação.

Anibal Pereira

Anónimo disse...

Pura delicia !
Parabéns à Zélia e ao Alberto Pereira
Encantei !
Obrigada a ambos

Ashera via multiply

Anónimo disse...

Está muito bem ilustrado, imagens e interpretação belíssima da Zélia, incluindo fotos pessoais.
Adorei, beijos poeta.
Eliane

Via multiply

Anónimo disse...

És o maior!! Qualquer dia a tua escrita aparece nos manuais
escolares!! Com os putos todos a tentar decifrar o que é que este gajo
quer dizer com esta frase, o que é que está por tráz desta estrofe...
Agora a sério continua a escrever, porque mais tarde ou mais cedo
serás reconhecido como um poeta de renome. Poderá não ser enquanto
vida, porque já sabes os grandes poetas como é o caso do Fernando
Pessoa só são reconhecidos depois da sua morte, mas estou em crer que
tens muito potencial... só tens que alargar a tua obra e lutar para
que ela seja devidamente valorizada. Um abraço do teu amigo Paulo

Maria Carvalhosa disse...

Maravilhoso. Simplesmente.
Beijos.

Unknown disse...

Grande amigo, eu sei que venho cá pouco, mas fiquei deliciado, e esse é o termo. Os comentários anteriores são fantásticos e, vistos de quem acompanhou mais de perto as "feridas", não me teceriam outros adjectivos senão, translucidez (nem sei se a palavra existe) mas de facto a interpretação das tuas palavras assume-se como um desnudar de vida à qual tenho o previlégio de pertencer. Por último, também "os dias de sol que nos aquecem a alma..." que sejam prazenteiros e que após cada tempestade a bonança chege com dádivas maiores para que a esrita não morra e sobretudo esta aventura da descoberta do ser.
Do teu grande amigo...
Paulo Fonseca