No fim de um estreito carreiro desembarca um mundo perdido.
Uma floresta de tábuas eriçadas que se espreguiçam na miséria, dão abrigo aos homens mudos de sonhos.
O horizonte merenda a arquitectura desordenada dos telhados de zinco que cobrem a madeira nua que treme de podridão. Em cima deles um sem número de inutilidades; pneus, tijolos e lixo reciclado pelas mentes que necessitam de guardar alguma coisa para enganar a desilusão.
Não se ouvem pássaros, apenas gritos e rumores das mulheres que dissecam cada pormenor da vida alheia. Estas não usam cremes, os seus cheiros são meteorológicos, pois o pouco dinheiro que lhes resta serve para saciar a fome à realidade.
As crianças correm, são “livres”, embora habituadas a sentir o álcool enfurecer as mãos dos pais sem razão plausível. Joga-se à bola, ao berlinde e às escondidas. Realizam-se os jogos olímpicos várias vezes por mês, com prémios de cortiça e taças feitas com garrafas de óleo, cabos de vassoura e pratas retiradas dos maços de tabaco já consumidos.
Os homens embriagam os dias de esquecimento, os filhos com a infância engarrafada lavam o futuro na revolta.
Aqui abrem-se as portas à memória, o tempo acende o sono dos sorrisos e a cada dia que passa nascem ilhas.
Uma floresta de tábuas eriçadas que se espreguiçam na miséria, dão abrigo aos homens mudos de sonhos.
O horizonte merenda a arquitectura desordenada dos telhados de zinco que cobrem a madeira nua que treme de podridão. Em cima deles um sem número de inutilidades; pneus, tijolos e lixo reciclado pelas mentes que necessitam de guardar alguma coisa para enganar a desilusão.
Não se ouvem pássaros, apenas gritos e rumores das mulheres que dissecam cada pormenor da vida alheia. Estas não usam cremes, os seus cheiros são meteorológicos, pois o pouco dinheiro que lhes resta serve para saciar a fome à realidade.
As crianças correm, são “livres”, embora habituadas a sentir o álcool enfurecer as mãos dos pais sem razão plausível. Joga-se à bola, ao berlinde e às escondidas. Realizam-se os jogos olímpicos várias vezes por mês, com prémios de cortiça e taças feitas com garrafas de óleo, cabos de vassoura e pratas retiradas dos maços de tabaco já consumidos.
Os homens embriagam os dias de esquecimento, os filhos com a infância engarrafada lavam o futuro na revolta.
Aqui abrem-se as portas à memória, o tempo acende o sono dos sorrisos e a cada dia que passa nascem ilhas.
5 comentários:
Optaste por um tema real, infelizmente deprimente, mas que faz parte do nosso quotidiano. Tens razão! Não fechemos mais os olhos para não vermos o que é feio, nos desagrada ou nos dói... não sejamos avestruzes, imaginando que o mundo é, todo ele, um lugar maravilhoso, onde não há lugar para a miséria e o infortúnio... durante todo o tempo em que conseguimos manter a cabeça bem escondida na areia!
Obrigada. Beijos.
Msg de Maria Carvalhosa no Multiply
São as faces visíveis da miséria social. A vergoanha de nós todos.É muito fácil para aqueles que fingem ignorar.
É o retrato mais poético que já li sobre bairros de lata. O ambiente deprimente que relatas chega a ser revoltante e afável ao mesmo tempo. Gostei dessas "fotos" que tiraste com as lentes da alma e imprimiste com letras de choque. Sabes ver e contar as coisas. Parabéns.
Msg de Filipe Antunes no Multiply
De facto consegues transformar o horrendo em poesia e isso é sinal de que és poeta mesmo quando escreves em prosa. Particularmente bonita esta descrição das mulheres e dos cheiros: "Não se ouvem pássaros, apenas gritos e rumores das mulheres que dissecam cada pormenor da vida alheia. Estas não usam cremes, os seus cheiros são meteorológicos, pois o pouco dinheiro que lhes resta serve para saciar a fome à realidade" e até parece que as ilhas são aquele lugar idílico com que muitos sonhamos "Aqui abrem-se as portas à memória, o tempo acende o sono dos sorrisos e a cada dia que passa nascem ilhas."
Msg de Tefnut no Multiply
O poeta é um mundo insubornável
que paga em melancolia
a arquitectura ardente da transgressão."
(Alberto Pereira)
Nada mais há para ser dito..está tudo aí nas suas próprias palavras.
beijos Alberto.
Eliane
Msg publicada no Multiply
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