domingo, 16 de setembro de 2012

Meteorologista de Lágrimas - Alberto Pereira



METEOROLOGISTA DE LÁGRIMAS

É feriado na solidão,
vejo-te descer a memória a poente do desespero.
Desde que as rugas me embriagaram a pele,
poucos se lembram de mim.
Todos me olham, 
mas, na verdade, poucos me vêem.

Agora que chego ao fim,
sei que as vírgulas mordem o destino
e este se faz de crianças fundeadas na distância.
Acredita,
sou um meteorologista de lágrimas,
adivinho as marés que encharcam o rosto
quando o coração pressente a baixa-mar.

Lembro-me,
era sobre os nossos corpos
que as aves amanheciam,
e eu,
eu ia com elas,
entre as margens de tudo.
Só quando partiste percebi,
a noite cresce mais que o mundo
e Deus cabe numa algibeira.

O paraíso é uma viagem
que termina sempre no inferno.


Alberto Pereira
in "Amanhecem nas rugas precipícios"

1 comentário:

Anónimo disse...

Beto, meu Amigo :
Que dizer deste seu Poema ?? Mais um daqueles tão "extraordinários" em que o poder das palavras ultrapassa os nossos sentidos!!
"Tocou-me" muito .... adorei.
Um beijinho com saudade e continue com enorme sucesso.
Mena P. (Nunca mais falámos...)
++