quarta-feira, 19 de maio de 2010

UM PRECIPÍCIO A QUE QUEREMOS PERTENCER - POEMAS DITOS - 2




Episódio 2


Mário Cesariny/Navio de espelhos


O navio de espelhos
não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

O seu porão traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

E no mastro espelhado
uma espécie de porta

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ála
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo


Mário Cesariny

1 comentário:

Eliane disse...

São tão bem realizados esses vídeos, as imagens e a canção tantalizante casam-se,
completam-se com as palavras.
Gostaria de saber executá-los tão bem, para fazer um vídeo de algum poema seu.
Lindo esse Mário Cesariny, obrigada por compartilhá-lo.

Eliane

Via multiply