quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Guernica



O mundo desaba dentro dos homens,
voam aviões no olhar,
gritam noites no peito.
Do céu caem guilhotinas,
o estrume metálico fede pústulas de pólvora
sobre a sumptuosa desgraça.
Há abismos detonados pelos corpos fora.


O mundo desaba dentro dos homens,
o acne das bombas
vai calafetando a morte no chão.
As mães com os membros orlados no exílio
resvalam crianças no desespero,
tocam sinos nas rugas.


Guernica,
em ti descarrilam sonhos translúcidos
em carruagens de sangue
e só os ditadores encalhados na cinza
toureiam o dilúvio.

Poema do livro "O áspero hálito do amanhã"
de Alberto Pereira

3 comentários:

Maria Carvalhosa disse...

Este poema tem uma força só comparável à que nos é transmitida pela pintura de Picasso. Mais do que uma legenda para um quadro, trata-se de um manifesto anti-guerra. Admirável!
Um beijo.

Anónimo disse...

E as Guernicas nunca cessam...
Lindo e triste, Alberto.
Um beijo, Feliz Natal poeta!
Eliane

Via multiply

Maria Oliveira disse...

Poesia de intervenção, que leva os leitores a acordarem, da possível apatia em que se encontrem...
"Guernica" dá que pensar!

Abraço